terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Transgênicos: vilões ou mocinhos?

Transgênicos: vilões ou mocinhos?

Melhoramento genético e seleção artificial
Há séculos o homem utiliza a prática de melhoramento genético para aperfeiçoar espécies animais e vegetais de interesse.

Tudo começou quando o homem passou a realizar cruzamentos, seguidos de seleção artificial, das variedades que mais lhe interessavam. Esse procedimento originou inúmeras raças de animais e variedades vegetais que, hoje, fazem parte de nosso dia-a-dia. Cavalos e jumentos são cruzados para produzir híbridos – mulas e burros – utilizados para serviços de tração; o gado leiteiro e o de corte são hoje muito mais produtivos que os de antigamente; plantas como milho, feijão e soja produzem atualmente grãos de excelente valor nutritivo.
Para preservar as qualidades das inúmeras variedades vegetais obtidas em cruzamentos, o homem aprendeu a fazer a propagação vegetativa, processo executado principalmente pelo plantio de pedaços de caule (estaquia) ou de enxertos (enxertia) das plantas de boa qualidade.

Esse tipo de reprodução assexuada forma clones das plantas com melhores características.
Bons exemplos desse processo são a estaquia, atualmente praticada pelo Instituto Florestal de São Paulo, de pedaços de galho de eucalipto na propagação de variedades produtoras de madeira de excelente qualidade para a construção de casas, e a enxertia de inúmeras variedades de laranja, entre elas a laranja-da-baía, também conhecida como laranja-de-umbigo.
Vimos que, desde os tempos antigos, o homem aprendeu, por meio da observação e da experimentação, a praticar o melhoramento de espécies animais e vegetais que apresentam algum interesse econômico, alimentar ou medicinal. Essas bases deram início a uma tecnologia conhecida como biotecnologia, que pode ser definida como um conjunto de técnicas que utilizam organismos vivos ou partes deles para a produção de produtos ou processos para usos específicos. Analisando a definição, podemos pensar que a biotecnologia já é praticada pelo homem a milhares de anos, quando ele aprendeu a utilizar, por exemplo, microorganismos fermentadores para a produção de pães, iogurtes e vinhos.
Depois do conhecimento da estrutura do DNA, na década de 1950, e do entendimento do seu processo de duplicação e da sua participação na produção de proteínas, surgiu uma vertente da biotecnologia conhecida como engenharia genética, que, por meio de técnicas de manipulação do DNA, permite a seleção e modificação de organismos vivos, com a finalidade de obter produtos úteis ao homem e ao meio ambiente.
A manipulação dos genes

Com a elucidação da estrutura da molécula de DNA por Watson e Crick, em 1953, e o reconhecimento de que ela era o principal constituinte dos genes, o grande desafio para os cientistas consistia em fazer uma análise detalhada da sua composição nos diversos seres vivos. Sabia-se, também, que as bases nitrogenadas adenina, timina, citosina e guanina, componentes dos nucleotídeos, guardavam relação com o processo do código genético que comandava a produção de proteínas. Mas, várias dúvidas ainda perturbavam os cientistas: onde começa e onde termina um gene? Qual a sua seqüência de nucleotídeos? Quantos genes existem em cada espécie de ser vivo?
A procura por respostas a essas perguntas gerou um intenso trabalho de pesquisa e originou um dos ramos mais promissores e espetaculares da biologia atual: a engenharia genética.

A manipulação dos genes decorrente das pesquisas, conduziu à necessidade de compreender o significado de novos conceitos relacionados a essa área.
Entre esses conceitos estão os de enzima de restrição, sítios alvo, eletroforense em gel, tecnologia do DNA recombinante, técnica do PCR, biblioteca de DNA, sondas, fingerprint etc. Uma pergunta que você poderia fazer é: porque devo conhecer todos esses conceitos e qual a utilidade deles para a minha vida? Porque para você ter uma opinião sobre transgênicos, pesquisa de paternidade, produção de medicamentos e vacinas e terapia gênica, deve saber sobre o que está falando. Todos nós esperamos que as pesquisas contribuam para a melhoria do bem estar da humanidade e por isso temos que conhecer a principais técnica utilizadas por ela para poder julgá-las justamente.



Transgênicos podem ser benéficos
Os alimentos transgênicos trazem benefícios à saúde humana e ao ambiente. Quem afirma é o biólogo e professor do Departamento de Genética e pesquisador do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Universidade de Campinas (Unicamp), Marcelo Menossi, que participou em Curitiba, do lançamento da revista Nutrição e Saúde. A publicação vai levar a discussão para outros seis estados. Segundo Menossi, o melhoramento genético já é desenvolvido há muitos anos em todo o mundo e surgiu com o cruzamento de espécies para a obtenção de plantas mais produtivas e resistentes a doenças. O que se faz com os alimentos transgênicos, explica o pesquisador, é manipular o gene de determinadas culturas para se obter resultados parecidos e até melhores que os cruzamentos. Segundo ele, as afirmações de que os alimentos geneticamente modificados causam danos à saúde não procedem, "pois eles são igualmente seguros como os alimentos convencionais". Ele garantiu que a rejeição na Europa surgiu quando os organismos de segurança daquele país não conseguiam explicar o aparecimento da doença que atingiu os rebanhos, chamada de vaca-louca, e a explosão de casos de HIV/aids. "Mas nos EUA os produtos transgênicos são consumidos desde 1994 e até hoje não há registro de casos de alergia ou qualquer outra doença", afirmou. Ele disse ainda que setores de peso na comunidade científica, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial da Saúde para a Agricultura e Alimentação (FAO) tem manifestado apoio ao uso racional dos transgênicos. Até mesmo os projetos como o da soja Roundup ready – que é obtida com um gene de bactéria resistente ao herbicida Roundup –, desenvolvida pela multinacional Monsanto, também não apresentaram danos à saúde dos consumidores. "O que existe é uma desinformação à população, e por isso essa resistência", disse. O pesquisador afirma que os produtos transgênicos podem diminuir impactos negativos no ambiente, principalmente no tocante ao uso de produtos químicos. Na China, citou Menossi, a utilização de algodão resistente reduziu, nos anos de 1999 a 2000, em 125 mil toneladas o uso de inseticidas. Porém o pesquisador alerta que antes de adotar a tecnologia é preciso avaliar o contexto de cada país. "Existem espécies que podem sofrer alterações com o cruzamento, e por isso é importante continuar investindo em pesquisas", finalizou.
ONU respalda uso de transgênicos no combate à fome
A biotecnologia representa grande esperança para agricultores de países em desenvolvimento, mas, até agora, apenas algumas dessas nações estão desfrutando de seus benefícios A análise está no relatório anual da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) da ONU, divulgado nesta segunda-feira. Numa clara defesa da adoção de alimentos transgênicos como uma das formas de combate à fome mundial, a FAO alerta para o fato de que cultivos considerados essenciais sobretudo nos países mais pobres - como mandioca, batata e trigo - vêm sendo negligenciados por cientistas. O documento lembra que o mundo terá 2 bilhões de pessoas a mais para alimentar até 2030 e que a biotecnologia pode ajudar a enfrentar tal desafio.

'Nem o setor público nem o privado investem significativamente em novas tecnologias genéticas para os chamados 'cultivares órfãos', como o sorgo e o painço, essenciais para os povos mais pobres do planeta', afirmou o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.

'Transgênicos são seguros', diz documento

A posição da FAO vai de encontro às teses mais difundidas, segundo as quais o problema da fome não está relacionado à escassez de alimentos, mas sim à má distribuição. O documento frisa que o grande desafio da biotecnologia é desenvolver técnicas que combinem o aumento da produção, a redução dos custos, a proteção do meio ambiente e, ainda, garantam a segurança alimentar.

Embora o documento sustente que a biotecnologia não se restringe aos transgênicos, o texto cita o que considera organismos geneticamente modificados bem-sucedidos:

'Exemplos são encontrados em variedades de arroz e canola que contêm consideráveis quantidades de betacaroteno. Esse precursor da vitamina A está presente em poucos itens da dieta de muitas pessoas, particularmente nos países em desenvolvimento, onde poderia ajudar a reduzir deficiências crônicas de vitamina A.'

Segundo o texto, a pesquisa agrícola pode tirar pessoas da pobreza, ao aumentar os lucros e reduzir o preço dos alimentos. Dados da FAO revelam que mais de 70% das pessoas mais pobres do mundo vivem em áreas rurais e dependem diretamente da agricultura para sua sobrevivência. O relatório foi divulgado menos de uma semana depois de a Monsanto ter desistido do lançamento de um trigo transgênico, sob a alegação de que não havia aceitação por parte dos consumidores.

Mas o documento da FAO sustenta que, embora muitos europeus se oponham aos organismos geneticamente modificados, o mesmo não corre entre os consumidores dos países em desenvolvimento.Embora frise que pouco se conhece sobre os efeitos a longo-prazo da ingestão de transgênicos, o texto sustenta que 'os cientistas em geral concordam que os atuais cultivos transgênicos e os alimentos derivados deles são seguros para comer'.

Vantagens e perigos

Benefícios potenciais dos transgênicos

O aumento da produtividade é um dos maiores benefícios já constatados dos transgênicos. Cultivos modificados geneticamente para serem resistentes a herbicidas e pragas já estão sendo plantados em diversos países.

A redução do impacto ambiental de plantios que demandam menos agrotóxicos também é apontada como uma grande vantagem, bem como a adaptação de cultivos a diferentes condições ambientais.Para os especialistas, um dos maiores benefícios dos transgênicos seria o aumento dos valores nutricionais de diversos alimentos, caso do arroz enriquecido com vitamina A.

Riscos em potencial

O controle dos cultivos transgênicos ainda não é totalmente eficiente, segundo a ONU. Um milho geneticamente modificado destinado a consumo animal, por exemplo, foi encontrado em alimentos para humanos em 2000.  A transferência de substâncias passíveis de causar alergias em humanos é outra preocupação dos cientistas.

Plantas geneticamente modificadas podem ter efeitos não desejados também para o produtor, como retirar mais recursos do solo do que o normal ou demandar mais água. Teme-se ainda que organismos transgênicos possam levar à redução de populações naturais, causando desequilíbrio.

Vegetais com ômega 3 e 6

Cientistas da Universidade de Bristol, Grã-Bretanha, desenvolveram planta transgênica capaz de produzir os óleos ômega 3 e 6, considerados benéficos ao coração e normalmente encontrados apenas em peixes de águas mais frias, como o salmão e o atum.

Para os pesquisadores, o estudo pode levar a uma nova geração de alimentos especialmente criados para reduzir o risco de doenças cardíacas, entre outros problemas de saúde.  O estudo, publicado na 'Nature Biotechnology', lembra ainda que, com a redução dos estoques naturais de peixes, a produção desses óleos em outros organismos pode ser essencial para a alimentação humana. Segundo os cientistas, os genes utilizados para induzir a produção dos óleos podem, em tese, ser usados em diversos vegetais, normalmente consumidos pelo homem.
(O Globo, 18/5/2004)

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